decidi criar uma nova categoria de posts aqui no blog: a problematização de dicas ruins.
essa nova categoria talvez seja mais importante pra mim do que para vocês – porque eu *preciso* colocar pra fora, escrevendo, o que eu penso sobre algumas das piores dicas que eu vejo por aí. mas, ainda assim, você pode se beneficiar dos meus desabafos: eu tenho certeza que você já ouviu várias dicas péssimas por aí e elas já te afetaram de diferentes formas.
inauguro esse quadro com a frase: termine o que começou.
essa é uma frase que sempre me assombrou. ela era acompanhada de uma coreografia cujos passos envolviam apontar os dedos para todas as minhas “desistências”. por isso, eu sempre me entendi como uma pessoa aversa à persistência. e é desse lugar que eu falo.
é fácil ligar os pontos: se é necessário persistir para ter sucesso, eu era uma pessoa fracassada.
aos meus vinte e poucos anos percebi o quanto era estúpida e perversa essa lógica. afinal, de que serviria persistir em atividades que me faziam infeliz? seria a persistência nas atividades capaz de vencer a infelicidade que elas me proporcionavam? qual é o sentido da persistência sem o propósito? a persistência, por si só, pode ser considerada um propósito?
entendi que a persistência têm mais a ver com o propósito do que com atividades específicas.
quando nos comprometemos com propósitos, não vemos sentido de continuar em lugares que não nos aproximam de nossos objetivos. persistir em um fim significa estar sempre atento aos caminhos e mudar a rota quando ela não for mais interessante.
e, se você é mais comprometida com propósito do que com meios, você pode ser entendida como uma pessoa pouco persistente – assim como eu. mas, quem vê de fora, não vê propósito e nem processo. quem vê de fora não acessa nem seu mapa e nem sua rota, apenas fragmentos selecionados da sua rotina. quem te cobra persistência de fragmentos não entende que o seu comprometimento pertence a um plano maior.
persistência não significa linearidade.
foi também há pouquíssimo tempo também que desconstruí a imagem que tinha de mim mesma como alguém não persistente. foi meu professor de francês quem me fez entender: a persistência tem mais a ver com voltar do que com nunca parar. sou persistente para aprender a língua, pois, mesmo depois de ter tido que interromper meus estudos diversas vezes por diversos motivos – diversas vezes também retornei. o mesmo vale para a atividade física e o veganismo.
se a vida é processo, o que significa terminar o que começou?
minha mãe costumava catar minhas desistências e espalhá-las sobre uma mesa imaginaria para que eu tivesse consciência de tudo aquilo que comecei mas não terminei. hoje, ela não faz mais isso. mas, por muito tempo, tive que explicar (e aprimorar a minha argumentação para isso!) como precisamos, sim, desistir daquilo que não faz mais sentido.
exemplo da categoria atividade física:
eu já tive que ouvir que comecei a treinar natação – e saí. ginástica olímpica – e saí. depois, comecei a treinar vôlei – e saí. comecei a fazer academia – e saí.
em primeiro lugar, vale destacar que: cada desistência é única. elas podem estar relacionadas, mas não necessariamente.
em segundo lugar, precisamos nos perguntar: o que significa não sair da ginástica olímpica? o que significa, neste caso, terminar o que comecei? tornar-me atleta profissional e competir nas olimpíadas? precisamos ser críticas e, novamente, focar mais no propósito.
comprometimento com outras pessoas
por outro lado, quando nos comprometemos com outras pessoas, precisamos nos perguntar de novo: o que significa terminar o que começou?
entendo que, em todo caso, tanto terminar o que começou quanto não fazê-lo possui consequências. seja para você ou para outras pessoas – caso você não termine alguma atividade ou projeto para o qual você se comprometeu com alguém.
por isso, acredito que nesses casos a comunicação e a transparência sejam essenciais para que você a) avalie onde está o seu comprometimento; b) avalie quais as consequências da não conclusão de alguma tarefa.
qual é a sua opinião sobre essa dica?