basta organizar que tudo é possível?
não. porque:
- as nossas escolhas são limitadas pelo contexto;
- nosso dia tem 24h e somos humanos – e não há nada que possamos fazer sobre isso; e
- a organização sozinha não resolve nós emocionais.
a organização nos ajuda a compreender o que podemos ou não fazer e quais são as consequências de se assumir uma responsabilidade ou de abandonar um compromisso já firmado. ela não nos ajuda a dar conta de tudo – porque isso é sequer possível.
por outro lado, a organização nos ajuda a entender: de que tudo eu quero dar conta?
quando nos organizamos, somos obrigadas a olhar para nossa vida. e, daí, começa o processo de autoconhecimento. porque somos confrontadas com perguntas que angustiam: por que eu faço isso dessa forma? por que, cotidianamente, dou tanta atenção para isto se minha prioridade é aquilo? olhar para o que fazemos ou deixamos de fazer e entender os efeitos destas decisões para nossa vida dói. e exige mudanças.
não podemos, por outro lado, achar que estamos onde estamos única e exclusivamente por nossa escolha. por isso, entender o contexto é fundamental para que a gente consiga entender até onde podemos ir. o que, afinal, é nossa escolha? o que não é? como podemos caminhar?
por isso, ao meu ver, organização não é sobre fazer mais.
organização é sobre fazer melhor. é sobre escolher conscientemente onde e como investir sua energia. e entender que, às vezes, nossas escolhas são limitadas.
se organizar pode, sim, ser uma maneira de conseguir fazer mais coisas em um mesmo período de tempo – se este for o seu objetivo. mas simplesmente não é possível fazer caber 48h em um intervalo de 24h. e, se é isto que você está tentando fazer… provavelmente não cabe organização no seu dia a dia.
perceber isso pode, também, ser muito angustiante. porque nos é vendida a mentira de que a organização basta. bastaria você se organizar para ganhar mais dinheiro. bastaria você se organizar para melhorar seu desempenho no trabalho. bastaria você se organizar financeiramente para não se preocupar com grana. bastaria você se organizar para manter sua casa limpa e os estudos em dia.
a verdade é que não basta. a verdade é que se organizar significa olhar para tudo isso e fazer escolhas. vou dormir mais para melhorar o meu desempenho neste trabalho, que está alinhado à minha carreira? ou vou dormir menos para ganhar uma renda extra que me ajudará a deixa o meu emprego, que não está alinhado ao que desejo para minha vida? qual faxina de manutenção vou deixar de fazer para estudar uma língua estrangeira? qual será o impacto, no meu dia a dia, de aceitar esta demanda do meu chefe? vale a pena começar uma nova graduação nesse momento da minha vida? até quando essa rotina se sustenta? e, por aí, vai.
a organização também não basta quando encontramos nós emocionais pelo caminho. ora, muitos sabem que é preciso se organizar financeiramente para ter uma vida financeira saudável. no entanto, quantos não tem muitas dificuldades pessoais com relação a dinheiro? o que significaria: apesar de conhecerem muitas regras e métodos, as pessoas não conseguem transformá-las em hábitos nas suas rotina. o mesmo pode valer para alimentação, por exemplo: as pessoas podem até saber o que fazer, mas não conseguem.
sobre esses limites emocionais, recomendo o episódio de hoje do negacionismo contemporâneo. conversamos com a psicanalista letícia zâmpier sobre a relação entre organização e análise. tá bem bacana!
a organização nos ajuda a perceber esses nós emocionais pelo caminho. no entanto, ela não os resolve.
afirmar que a organização tem limites não significa diminuí-la. quando entendemos até onde podemos ir com a organização, sabemos o que esperar dela. assim, evitamos frustrações.
reconhecer nossas possibilidades nos deixa mais livres para criar. e a organização que eu acredito só pode ser criativa.