acredito que este seja um dos temas mais sensíveis para minha organização.
há muito trauma familiar envolvido na questão do dinheiro. por isso, gastar nunca é só gastar. do mesmo modo, poupar nunca é só poupar. as ações relacionadas a dinheiro assumem um outro lugar pra gente. em uma sociedade capitalista, na qual as relações são mediadas pelo dinheiro e atravessadas pelo financeiro, organizar as contas não é nada trivial.
há muita culpa envolvida na organização financeira. a ideologia te faz acreditar que você é pobre porque não sabe cuidar do seu dinheiro. e bastaria que existissem aulas de educação financeira nas escolas para que não existissem mais pobres no país. mentira.
a minha organização financeira só começou a funcionar em 2018. porque eu queria saber quanto eu gastava por mês para entender melhor quanto eu gostaria de receber mensalmente para manter um certo padrão de vida. eu queria ter dinheiro guardado para emergências. e queria começar a sonhar outros sonhos.
criei, então, uma ferramenta: uma planilha de entradas e saídas.
antes dela, eu sabia que gastava mais do que recebia porque terminava o mês sempre no vermelho. por vezes, o mês começava a sobrar até antes do dia 20. para aprender a gastar menos, eu precisava entender os meus gastos. e olhar para isso não é simples. há muito trauma envolvido.
tentava anotar meus gastos em um bloco de notas. e tentava anotá-los na planilha no final do dia. este hábito, provavelmente, só se consolidou em 2020.
eu só consigo elaborar sobre os meus princípios (ou valores ou políticas pessoais) nesta área da vida porque eu olho para as minhas finanças. o que é tão difícil quanto necessário. hoje, essa é a minha relação com o dinheiro – ou com coisas que afetam a minha relação com ele:
- não é possível pensar sobre as minhas finanças se eu não sei quanto entra e quanto sai. então, nada foi mais importante do que estabelecer o hábito de anotar e meus gastos e organizá-lo em categorias.
- todo mês, faço uma revisão financeira e crio um planejamento orçamentário para o mês seguinte. isso só é possível porque já conheço bem os meus gastos e consigo prever o limite orçamentário para cada categoria.
- a categoria faço-o-que-eu-quiser-e-ninguém-pode-me-julgar é um reconhecimento de que eu vou gastar dinheiros em coisas que não estão previstas. por exemplo: um presente para uma amiga, uma rede, um livro de poesia ou uma roupa. este dinheiro é previsto no orçamento pois ele será gasto, mesmo que eu não o separe. melhor fazê-lo com consciência.
- ninguém compra só o que precisa. a necessidade é abstrata e precisamos olhar para os desejos. precisar ou não faz parte do critério de escolha – mas não é e nem pode ser o único.
- mesmo as compras da categoria faço-o-que-eu-quiser-e-ninguém-pode-me-julgar são determinadas a partir de critérios – porque eu quero muita coisa mas o dinheiro é curto.
- não sigo perfis nas redes sociais que aumentem meu desejo por coisas que não fazem sentido pra mim. (percebe que é diferente de seguir perfis que aumentam meu desejo por coisas que eu não preciso?)
- delivery não é comida de dia a dia. delivery é para momentos de lazer.
do meu ponto de vista, isso é autoconhecimento sem glitter.
organização financeira não é sobre grandes investimentos e estudos sobre cdbs e cdis. talvez, para você, seja conseguir terminar o mês dizendo para onde foi o dinheiro. se você o fizer com consistência, aí sim você conseguirá pensar em mudanças para a sua vida financeira. aí sim, você conseguirá planejar seus gastos. aí sim, você entenderá quais mudanças precisa fazer na sua rotina para economizar.