você já percebeu a quantidade de profissionais que, através de seus perfis no instagram, vendem seus métodos? é como se cada um tivesse o seu – há tantos métodos quanto profissionais espalhados pela rede.
não me entenda mal: este fenômeno, assim como tantos outros, não é exclusivo das redes, mas exacerbado por elas. como disse anteriormente, o livro essencialismo é um excelente exemplo de um passo a passo que é vendido como método, parece método, mas não é.
como saber se um método é realmente sério ou se ele é uma fórmula mágica – por mais que ele próprio afirme ser contra esta prática? tenho algumas dicas.
as aparências enganam
métodos são procedimentos – processos organizados, lógicos – de alcançar determinados resultados. são fundamentados teoricamente e filosoficamente. suas bases são explicitas: quando você pergunta ao método porque um passo deve vir em determinada posição, ele te responde. se você pergunta ao método quais elementos são obrigatórios ou opcionais, ele te responde. se você pergunta ao método seus porquês, sempre haverá uma resposta bem fundamentada.
fórmulas mágicas são apresentadas de maneira parecida. tal qual os métodos, apresentam passos para que sejam alcançados resultados. seus princípios, porém, não são claros. ou, ainda, baseiam-se em crenças não evidenciáveis.
quando métodos não funcionam, existem caminhos lógicos para identificar o que não funcionou e o que pode ser feito de outra forma e como. é neste momento que a teoria e os fundamentos fazem toda a diferença: são os princípios que nos orientam e nos indicam como caminhar com autonomia, independente do método. quando compreendemos suas bases, somos livres e adaptamos os passos de acordo com a nossa realidade.
quando fórmulas mágicas – mesmo vendidas como métodos – não funcionam, a explicação, em geral, é culpabilizadora e individual. as respostas são essencialistas: você não é disciplinada – e não há alternativa para isto, portanto, o “método” não te serve. você não é motivada – e não há alternativa para isto, portanto, o “método” não te serve.
mágica para os mágicos
fórmulas mágicas são aquelas que te prometem saídas fáceis – ou, ainda, que defendem que todo seu sucesso deriva do seu esforço individual. ou, ainda, ambos: a saída é fácil, basta que você acorde ao nascer do sol e siga esta sequência de passos.
por que seguimos acreditando? por que terceirizamos nossa rotina e acreditamos que somos essencialmente incapazes de decidir por conta própria os melhores caminhos para nossas vidas?
quando nos privamos de pensar – e deixamos o trabalho de articulação entre fundamentos e passos para “aqueles que desenvolvem os métodos” -, abrimos mão da nossa autonomia.
eu já acreditei que para ser produtiva, precisaria dormir menos. esta era uma resposta fácil e que não me demandava pensar sobre minha rotina e minhas escolhas: se eu me esforçar para manter este novo ciclo de sono, terei mais tempo. tudo depende só de mim. fórmula mágica.
eu não quero que ninguém, nunca mais, acredite nestas falsas promessas.
ser mais produtiva, de fato, só se tornou uma realidade para mim quando eu comecei a me organizar de verdade, com método. sem respostas fáceis, mas análises de elementos concretos que explicavam objetivamente o que eu poderia fazer de outra maneira e porquê. a minha vida só mudou mesmo quando eu comecei a entender a relação entre o contexto e as minhas escolhas e como minhas ferramentas e rotina se relacionavam entre si.
e isto não significa que eu seja rica e muito bem sucedida. mas que eu tenho autonomia para realizar mudanças na minha rotina e dar atenção ao que é prioridade para mim – o que é mais honesto e, talvez, a única promessa que realmente possa ser feita.
edit 27 de abril de 2022: ao revisitar este texto, acredito que receita de bolo expressa melhor a minha ideia do que fórmula mágica.